sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

HU na abertura da Novembro Arte Contemporânea


Conforme anunciado aqui no blog, no último dia 29 de novembro houve a abertura da galeria Novembro Arte Contemporânea, em São Paulo. Nosso HU faz parte da coletiva, que fica exposta até final de janeiro de 2010. Ficamos todos muito felizes de comprovar que o filme funciona muito bem pendurado à parede: não foram poucos os capturados pelas imagensons que vinham daquele cantinho escuro da galeria!


Lá no fundo do quadro, o cantinho escuro onde o HU é exibido diariamente em loop. A Galeria Novembro Arte Contemporânea fica na Avenida Dr Arnaldo, 138.

sábado, 28 de novembro de 2009

HU na TV aberta!

Amanhã, quinta-feira 3/12, às 23h00 (TV BRASIL), tem início a transmissão do HU na TV aberta! O filme passa duas vezes, em diferentes horários, em cada canal da rede de TVs públicas e educativas. Publiquei na coluna ao lado as datas e horários de cada exibição do filme. Fica então o convite: assistam e enviem seus comentários aqui para o blog ou por email para enigma_hu@yahoogrupos.com.br.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

HU é lançado no circuito das artes visuais!

A convite do galerista Ronaldo Grossman, o filme HU fará parte da exposição coletiva que inaugura o novo endereço da Galeria Novembro, dia 28 de novembro, em São Paulo. O filme ficará exposto numa TV de plasma pendurada à parede. Ao que parece, nosso querido documentário acaba de ser reconhecido como obra de arte.

No domingo seguinte, dia 29, é o lançamento na TV BRASIL e demais emissoras públicas do país.
Ou seja, sábado o filme invade o circuito das artes visuais e domingo ele estréia na televisão aberta! Já não há como negar sua natureza híbrida. Que venha logo a versão longa-metragem para festivais e circuito comercial de salas de cinema!

A Galeria Novembro fica na Avenida Doutor Arnaldo, 138 | Pacaembu | São Paulo.
A vernissage acontece no sábado 28 de novembro às 16h.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Cinema de verdade


Foi uma noite incrível. Mais de trezentas pessoas lotaram as salas 3 e 4 do Arteplex da Praia de Botafogo na última quinta-feira para assistir ao documentário ‘HU’ (a foto acima é do debate!). A projeção digital estava belíssima (obrigado, RAIN!) e o debate após a sessão foi ‘quente’ como esperávamos. A mesa composta pelos diretores do filme e por Roberto Segre (crítico de arquitetura), Consuelo Lins (professora da Escola de Comunicação) e pela artista visual Rosângela Rennó não desperdiçou a oportunidade de discutir, por pouco mais de uma hora, o filme, o HU, o país. Ela contou ainda com a contribuição de inúmeras participações do público, já que muitos permaneceram na sala para a ‘conversa’ após a projeção. Destaque para as intervenções do Dr. Alexandre Cardoso, atual diretor do HUCFF, do engenheiro Jairo Villas-Boas, ex-diretor da divisão de engenharia do hospital e da professora e arquiteta Margareth Pereira. Todos estes ‘participantes’ do filme que não se fizeram de rogados, pediram a palavra e continuaram e desenvolveram, ali mesmo na sala de cinema, a discussão iniciada no documentário: o filme não se esgotou na tela e, naquela noite, reverberou em muitos dos presentes à sessão. Muito obrigado a todos.


Nas fotos abaixo, as intervenções do Dr. Alexandre Cardoso e da prof. Margareth Pereira.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Enigma III

Ainda o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro: “Em qualquer lugar, se você cair nas garras do Estado, você só sai delas com muita sorte. Não carece ser brasileiro. Se você vai aos Estados Unidos, veja lá sua relação com o imposto de renda; nem precisamos falar do regime de terror implantado pelo governo Bush filho. Vá a Inglaterra e veja o que acontece se você, sei lá, cruzar a faixa no lugar errado. Caia na besteira de oferecer uma graninha para o policial quando não devia ter feito isso (e, pelo menos no Brasil, vice-versa). Você nunca mais escapa. Vai ficar preso numa rede. O Estado é implacável. A essência da burocracia não é a racionalidade, mas a impessoalidade. A única pessoa ali é o Estado, não tem mais ninguém. O Estado é o grande sujeito. E vice-versa: l’État c’est le Moi.”

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Por que somos assim? (Diário de Montagem VI)


Há algo que me agrada nas diversas entrevistas do filme. Ninguém ali parece evitar a complexidade das questões abordadas. Ninguém parece à procura de um culpado – seja ele uma pessoa, uma idéia, um projeto. Parecem suspeitar tacitamente que o buraco é mais embaixo e o ‘problema’ frequenta a todos. Ecoam até hoje as perguntas do diretor do hospital, Dr. Alexandre Cardoso: “Porque é que somos assim? Nós não podíamos dar continuidade no ano seguinte para que o hospital pudesse ficar pronto? Como é que nós havemos de enfrentar outros desafios sociais?”

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O enigma II


“Um dos traumas típicos, no mundo indígena, envolve uma saída solitária de uma pessoa ao mato, para caçar, por exemplo, a qual desemboca no encontro repentino com esses germes, essas larvas de Estado que são as alteridades-espírito, as agências sobrenaturais com o poder de nos contra-definir: ‘Aqui o sujeito sou eu. Você não é humano coisa nenhuma. Venha pra mim, torne-se um de nós.’ Você topa com uma onça, ela te olha diferente, você não consegue fugir do contato ocular: aí o bicho se transforma (a teus olhos) subitamente em uma pessoa, um parente por exemplo, e lhe pergunta – ‘por que você quer me matar, meu irmão?’ Não responda! – ou você já perdeu. A onça não é teu parente. A onça é a ausência mesma de parentesco.”

“Isso é um pouco como a idéia de Estado, que é suposto se constituir historicamente contra as antigas solidariedades de parentesco. Diante do Estado não somos mais que indivíduos. Todo mundo deve estar eqüidistante do Estado. As pessoas estão articuladas a ele sem mediação dos laços familiares. É você de um lado, sozinho; do outro lado, o Todo. No meio, nada – o vazio relacional. A criação súbita de você como indivíduo particular, como parte, e o Estado como o público, como a totalidade. A parte da parte e a parte do todo: a parte do leão, justamente; o leão do Fisco, a super-onça do Estado. E nós, os cidadãos-caititus, particularmente perdidos na mata da economia capitalista.” (fonte: Eduardo Viveiros de Castro/ Série Encontros: Ed. Azougue)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O enigma I

Reproduzo trecho de entrevista do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro: “O Estado produz aquela mesma sensação de alienação radical que os mortais sentimos diante das entidades sobrenaturais, isto é, imortais. A sensação de se estar completamente sozinho diante de uma transcendência absoluta, completamente alheia, parece-me muito próxima da posição subjetiva do cidadão diante do Estado. É a experiência do cidadão K., do homem qualquer, diante da lei: a despossessão subjetiva extrema, a perda das condições de autodefinição. É essa alteridade que me confronta que define quem sou; estou em suas mãos. Como impedir isso? Como escapar dessa? Questão angustiante.” (fonte: Eduardo Viveiros de Castro/ Série Encontros: Ed. Azougue)

domingo, 30 de agosto de 2009

'HU' no Arteplex dia 3 de setembro às 21h30



Já está tudo confirmado. Na próxima quinta-feira, dia 3 de setembro, às 21h30, haverá a primeira e única (ao menos nesse ano!) projeção do 'HU' na cidade. Serão duas salas do Arteplex (Praia de Botafogo, 316) e, depois da sessão, haverá uma conversa com o arquiteto e pesquisador da FAU-UFRJ Roberto Segre, a documentarista e pesquisadora da ECO-UFRJ Consuelo Lins, e a artista visual Rosângela Rennó. A sessão faz parte da programação do DOCOMOMO, encontro da entidade internacional ligada ao movimento moderno que estará acontecendo durante a semana no Palácio Capanema, no Centro. A projeção será em HD, uma cortesia da RAIN Networks. A entrada é franca e estão todos convidados. Até lá!

sábado, 29 de agosto de 2009

Ref:

Ao longo de todo o processo, lembramos de muita gente (ou melhor, das coisas que muita gente fez e faz). De algumas nos aproximamos, de outras cuidamos nos afastar. Na mesa grande e comprida, sentamo-nos ao lado do Tarkovski de ‘Stalker’ e da obra de Matta-Clark. Evitamos o ‘Hospital’ de Wiseman e as fotografias de Polidori. Nada contra os dois, muito pelo contrário, mas naquele jantar, não tínhamos muito o que dizer um ao outro.

Throughout the process, we remembered many people (or better the things that most people did and do). We got closer to some and decided to avoid others. In the big long table, we sat down next to Tarkovsky of 'Stalker' and the work of Matta-Clark. We avoided the 'Hospital' of Wiseman and Polidori's photographs. Nothing against them, quite the opposite, but at that dinner, we did not have much to say to each other. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Res publica (Diário de Montagem V)

E assim fomos construindo nosso ‘edifício’. O prazo era apertado e muitas vezes parecia que fazíamos dois filmes em um. A montagem sobre a montagem impunha seus caprichos e apresentava, dia após dia, novos desafios. Ao final da primeira semana, já não duvidávamos mais dos caminhos trilhados na filmagem. O negócio agora era não ‘errar a mão’ na representação das situações abordadas. Traduzir em menos de uma hora as complexas ambivalências do lugar supunha evitar a construção de um panorama apocalíptico da saúde pública sem negligenciar a grave situação do hospital (e da saúde pública no país). Era revelar os centros de excelência abrigados pela instituição assim como as diversas estratégias adotadas para driblar a absoluta falta de recursos. Reconhecíamos com progressiva acuidade nosso objetivo: flagrar a dinâmica da coisa pública no país, seu modo de operar. E as consequências muitas vezes perversas dos mecanismos impessoais da burocracia.

Res publica (Editing Diary V ) And so we built our 'building'. The deadline was tight and it often seemed we were doing two movies in one. Editing over and over again had imposed its whims, and presented day after day, new challenges. At the end of the first week, we had no doubt about the pathways of the footage. The business now was trying to avoid a heavy handed representation of the addressed situations. Translating into less than an hour the complex ambiguities of the place implied preventing the construction of an apocalyptic landscape of the public health system, without neglecting the plight of the hospital (and of the public health in the country). It was to reveal the centers of excellence housed by the institution as well as the various strategies adopted to circumvent the absolute lack of resources. We recognized with increasing acuity our goal: catch the dynamics of public affairs in the country, the way they operate. And the often perverse consequences of the impersonal mechanisms of bureaucracy.

Pro quadrado descer redondo! (Diário de Montagem IV)

 
Um quadrado não é fácil de engolir. Percebemos isso logo nas primeiras tentativas com a tela dividida. A esquizofrenia ameaçava. Era necessário ainda que os quadrados não chamassem demasiada atenção para si. Que não se tornassem protagonistas do filme. Deveriam ser sugeridos pelo prédio. Bem digeridos pelo espectador. Ao longo dos 52 minutos, ao público deveria ser dada a oportunidade de compreender os mecanismos do filme. Era mister seduzi-lo ao jogo: sortilégio fílmico. E para que a coisa acontecesse, trabalhávamos nossa construção com extremo rigor.

Round corners make it easy to swallow! (Editing Diary IV ) A square is not easy to swallow. We see this in the first few attempts with the split screen. Schizophrenia threatened. It was also necessary that the squares would not call too much attention to themselves. That they would not become protagonists of the film. They should be suggested by the building. Well digested by the viewer. Along the 52 minutes it should be given to the public the opportunity to understand the mechanisms of the film. It was necessary to entice them to play the game: filmic sortilege. And to make it happen, we worked on our construction with extreme rigor.
Recortamos um quadrado na cartolina preta. Que vez e outra era acomodado em nosso monitor. Só então surgia na tela o quadro que havíamos visto na filmagem. Nas fotos, a Joana (com o quadrado) e a Marina, montadora do filme.

We cut out a square on black cardboard. From time to time we set it on our monitor. Only then it appeared on the screen the picture we had seen in the footage. In the photos, Joana (with the square) and the Marina, the film editor.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Dois Quadrados (Diário de Montagem III)

A um só tempo: cheio e vazio; completo e incompleto; vida e morte; hospital e cemitério. Duas metades. Dois lugares. Duas ações-situações-locações. Duas telas. Dois quadrados. A relação é óbvia, direta. Permitia-nos sublinhar a idéia de simultaneidade, de vizinhança. E construir uma outra arquitetura do edifício. 

A razão de nossa ‘janela’ era de 2:1. Ou seja, o comprimento da tela era o dobro de sua altura. Uma proporção invulgar no cinema, mas comum na história da arte. Descobri uma defesa do formato assinada pelo diretor de fotografia Vittorio Storaro. Vi que estava em boa companhia.

A tela não estaria o tempo todo dividida ao meio. Alternaríamos os quadrados com o elegante retângulo de quadrados justapostos. Dois para um. Um para dois. Havia ainda as imagens que funcionavam tanto de um jeito como de outro. E aquelas cujo enquadramento retangular sugeria a divisão em quadrados. 

Two squares (Editing Diary III) At once: full and empty, complete and incomplete; life and death, hospital and cemetery. Two halves. Two places. Two actions-situations-locations. Two screens. Two squares. The relationship is obvious, straight. It allowed us to underline the idea of ​​simultaneity, neighborhood. And build another building's architecture. 

The reason for our 'window' was 2:1. That is, the length of the screen was twice its height. An unusual proportion in the cinema, but common in art history. I found a defense of the format signed by cinematographer Vittorio Storaro. I saw that I was in good company. 

The screen would not be all the time split in half. We would alternate squares with the elegant rectangle of juxtaposed squares. Two by one. One by two. There were also images that served both ways. And those whose rectangular framework suggested the division into squares.

À altura do HU (Diário de Montagem II)

Quando da elaboração do roteiro, apostamos numa construção que desse conta das diversas ações, situações, locações que havíamos conhecido em ambas metades do prédio. Filmamos com entusiasmo nossa aposta. Cumpria agora que ela se materializasse também na montagem.

Qual seriam os limites da chamada montagem paralela? Quantas ações / sequências seria possível articular simultaneamente sem comprometer a inteligibilidade do filme? O percurso que as indagações acima sugeriam passaram a orientar o dia-a-dia na sala de montagem. Vislumbramos a possibilidade de uma representação à altura do que havíamos até então experimentado.

O seguinte era outro, mas a estratégia era essa: 1) separar o que era filme do que não era; 2) montar as situações isoladamente; 3) montar o filme = articular as situações.

Up to the HU (Editing Diary II) When preparing the script, we bet on a construction which would account for the various actions, situations, locations that we had found in both halves of the building. We shot our bet with enthusiasm. We expected the same fulfillment now with edition.

What were the limits of the so-called parallel editing? How many actions/sequences it would be possible to articulate simultaneously without compromising the intelligibility of the film? The course suggested by the questions above began to guide the day-by-day in the editing room. We saw the possibility of a representation up to what we had experienced until now.

The next was another limit, but the strategy was this: 1) separate what was film from what was not; 2) assemble the situations in an isolated way; 3) edit the film = articulate these situations.

Diário de Montagem I

A montagem começou. (Já começou faz tempo, que este blog tem delay. Trata de digestão, culinária e promoção. E digestão é pensar. Pensar com o corpo.) Lembro-me das primeiras visitas ao HU. Distância. Ele nos desafiava às alturas. E aceitávamos o desafio. Mas olhávamos pra cima.

Editing Diary I The edting began. (It began long ago and the blog is on delay. It is all about digestion, cooking and promotion. And digestion is thinking. Thinking with the body.) I remember the first visits to HU. Distance. He challenged us to the heights. And we accepted the challenge. But we looked up.

terça-feira, 21 de abril de 2009

o outro lado


Hoje é aniversário de Brasília, capital de um Brasil que passou a ser construído no tempo em que se abandonava outro. Segue a homenagem nas palavras de Nicolas Behr, poeta goiano radicado na cidade. O HU continua de pé.


Poesia Pau-Brasília

quando será inaugurada em mim esta cidade?

no dia da inauguração
os candangos jogaram
seus sonhos para cima

quem pegar pegou

dor arquivada
felicidade protocolada
utopia adiada

brasília é o fracasso
mais bem planejado
de todos os tempos

brasília é a incapacidade
do contato afetivo
entre a laje
e o concreto

bicos de seios
apontam a direção
do monumento na
cidade plana
sem seios
sem desejos

o poema 
é área pública
invadida pela
imaginação

assim nos queremos viver,
nós dissemos

assim nós queremos que vocês vivam,
disse o arquiteto

as mudanças no plano piloto
as mudanças em mim

você ri né jk
vai rindo vai rindo
até você ver
o que fizeram
com sua cidade

brasília
não envelheceu

abrasileirou-se.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Hospital às moscas!

Deu hoje no Globo: "Direção do Hospital da UFRJ suspende cirurgias após invasão de moscas". Impressionante. O surrealismo bate o ponto diariamente no HU. Siga o link acima para ler a notícia, e não deixe de ler as cartas dos leitores indignados com a situação do hospital.

sexta-feira negra

A última sexta foi terrível. Nossa ilha, nosso computador, simplesmente não ligou. Um mac novinho, menos de três meses de uso... e a tela preta, impassível. Socorro!

Aconteceu desse jeito, o que explica a defasagem do blog: havia demandas mais urgentes que exigiam nossa atenção. No entanto, como desde os tempos da assistência de câmera sei que "quem tem um, não tem nenhum", temos, na Alice Filmes, duas ilhas. Nosso mac (ilha 1) já está na oficina e nosso mac (ilha 2) está bombando com os últimos retoques da montagem: o filme tá quase pronto!

o Bolo do HU

Na última quarta-feira, nosso querido hospital fez 31 anos. Estávamos lá e fomos surpreendidos pela comemoração (e pelo imenso bolo verde). Estão servidos?


sábado, 4 de abril de 2009

o Poço


Na metade desativada, o poço dos elevadores era um vazio profundo. Preenchemos com câmera. Ela viajava pelos andares, como um elevador. Foi o único dia que contamos com a equipe de maquinária. O esquema era de baixo custo, quase mambembe. E funcionou.

A câmera descia veloz por um sistema de cabos e roldanas numa queda quase livre, vertiginosa. Ficávamos a espreita à beira do vão (ex-futuro poço de elevadores), no 13o. andar da Perna-Seca.

Alguém aí tem medo de altura?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Visitas à Perna-Seca

Na oficina de direção promovida pelo DOCTV em Brasília, surgiu a idéia de convidarmos algumas pessoas pra visitar a Perna-Seca. Tratava-se de partilhar o acesso que o filme nos credenciou a um espaço, até então, interdito. Era uma forma de ocupar aquele espaço também, ainda que por pouco tempo e de observar as reações que provocava em nós e nos outros.


Aí em cima, a professora Margareth, da Faculdade de Arquitetura. Em baixo, a Tatiana, residente de otorrinolaringologia do HU.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

No Centro Cirúrgico

Todo mundo de pijamão pra entrar no Centro Cirúrgico (da direita pra esquerda: Marina, assistente de direção; eu, fotógrafo e diretor; Fabinho, assistente de câmera; Joana, diretora; e Edson, técnico de som). Acho que é onde um hospital mais parece com a imagem que temos de um hospital. É fascinante e assustador. Filmamos uma cirurgia assistida por vídeo. Conversamos com enfermeiras, médicos, residentes. E olhamos. Muito.

Aí embaixo, o Fabinho descarregando os cartões da gravação.

In the Surgical Center Everybody in gowns  to enter the Surgical Center (from right to left: Marina, assistant director and I, photographer and director, Fabio, camera assistant, Joana, director, and Edson, sound technician). I think that here is where a hospital looks like the image we have of a hospital. It is fascinating and frightening. We shot a video-assisted surgery. We talked with nurses, doctors, residents. And we stared. A lot.

Down there Fabinho downloading the recording cards.

Cartazes no hall dos elevadores

Hospital não é disneylândia, mas me diverti muito no filme. A lógica era a seguinte: o filme já tava pago e com veiculação garantida, a gente podia pirar a vontade, experimentar com gosto os diversos dispositivos documentais. Ok, tínhamos prazo e uma grana pra lá de curta, mas a possibilidade de jogar com nossas liberdades estava posta. E não via muito sentido em agir de outra maneira. Só sei trabalhar me divertindo. Não falo de descompromisso ou irresponsabilidade. Levo todas minhas loucuras a sério. A alegria é a prova dos nove.

A hospital is not Disneyland, but I had fun shooting the film. The logic was this: the movie was already paid and the cinema circuit was confirmed, so we could freak out at will and try diverse documentary approaches. Ok, we were short on money over there, but the possibility of playing with our liberties was possible. And it did not make much sense to do otherwise. The only way I know to work is having fun. I am not talking of slackness or irresponsibility. I take all my follies seriously. The proof of the pudding is Joy.
 
Nesse dia aí, resolvemos radicalizar o distanciamento comum ao recurso da entrevista clássica, pra ver no que dava. Microfonamos o lado de dentro do aquário que era a central de comando dos elevadores do prédio. A câmera tava longe, depois do hall dos elevadores, onde se formavam imensas filas. A Joana levantava cartazes com perguntas e sugestões de assunto. Os ascensoristas não tinham muita certeza se de fato os ouvíamos. Muitas vezes, logo passavam a conversar entre si.

In this day we decided to radicalize on the usual distance that is the common feature of the classic interview, to see what would happen. We miked the inside of the glass booth that was the building elevators command center . The camera was far away, after the elevators hall, where huge queues were formed. Joana raised posters with questions and suggestions on topics to discuss. The elevator operators were not sure that we were listening to them really. Often they just went on talking to each other.

No quadro (coloquei um frame aí embaixo), havia uma inversão interessante: o primeiro plano da imagem - as pessoas na fila esperando o elevador - não correspondia ao primeiro plano do som - os ascensoristas conversando na sala de controle.

In the frame (I put a frame down there), there was an interesting reversal: the foreground of the picture - people in line waiting for the elevator - did not correspond to the foreground of the sound - the elevator operators talking in the control room.
 

Câmera-cadeirante

Visitamos o ambulatório a partir da perspectiva de um cadeirante. O ambulatório é, muitas vezes, o primeiro passo para a internação no hospital. Você passa pela triagem no térreo, sobe uma longa rampa, entra nuns corredores azuis e chega no ambulatório. Foi também uma das primeiras vezes que conversamos mais longamente com alguns pacientes. As discussões na volta pra casa foram calorosas: revolta generalizada na equipe. Muitos pontos de vistas, muita conversa. O hospital é exaustivo. E vigoroso, potente. De uma maneira insuspeita, extremamente fértil.

Camera on a wheelchair We visited the clinic from the perspective of a wheelchair. The clinic is often the first step for admission to hospital. You go through the screening on the ground floor, up a long ramp, go through some blue corridors and arrive at the clinic. It was also one of the first times that we talked at length with some patients. The discussions when we went back home were red-hot: widespread revolt in the team about the hospital situation. Many points of view, a lot of talk. The hospital is exhausting. And robust, powerful. And in an unsuspected way, extremely fertile.

terça-feira, 31 de março de 2009

a Perna-Seca

Nossa primeira incursão na chamada Perna-Seca, a metade desocupada do edifício. O homem de capacete lá no fundo é o Jairo, engenheiro do hospital. Há um setor de engenharia na instituição, que cuida de sua manutenção e de seu contínuo re-desenho. Cada novo avanço da medicina supõe, em geral, a reconfiguração de um determinado espaço do edifício. O setor fica no térreo e conta com uma equipe de engenheiros, arquitetos, bombeiros hidráulicos, eletricistas e etc.

Lame Leg Our first foray into the so-called Lame Leg, the unocupied half of the building. The man wearing a hardhat in the back is Jairo, an engineer at the hospital. There is an engineering department in the institution that takes care of its maintenance and its ongoing re-design. Each new advance in medicine involves, in general, the reconfiguration of a given space in the building. The sector is on the ground level and has a team of engineers, architects, plumbers, electricians and so on. 

O carrinho de comida

O carrinho descia até a cozinha, era carregado com o almoço dos pacientes e então seguia para as enfermarias. Para cada paciente, uma dieta específica era receitada pela nutricinista do andar. ‘Poucas estruturas são tão complexas como um hospital’, nos alertou o Dr Alexandre Cardoso, diretor do HUCFF.


Fixamos a câmera no carrinho, ladeada por dois microfones que formavam um par estéreo, reforçado ainda pelo boom que fazia o centro. Uma experiência sensorial operada pela Tia Anastácia (na realidade, Rosângela). O apelido foi dado pelas colegas quando ela entrou na cozinha empurrando esse aparato insólito.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Hospital vertical

O HU tem 13 andares o que torna a dinâmica do hospital totalmente dependente de elevadores. Ao que parece, trata-se de um conceito ultrapassado de arquitetura hospitalar. Hoje, é mais comum a construção de hospitais mais baixos e horizontais, com rampas. De qualquer forma, os elevadores são centrais na vida dos usuários do HU. Colocamos nossa câmera presa no teto de um dos elevadores e microfonamos a cabine. A cada vez que a porta abria, víamos um andar diferente. O elevador não parecia mover-se.

...e com tudo pronto, a galera deu uma descansadinha.

Quer dizer, alguns. Outros corriam atrás das autorizações de imagem.

Aí embaixo é o Gustavo Pessoa, meu sócio na Alice Filmes que deu uma força com as traquitanas do elevador, do carrinho de comida... e com as autorizações.


Filmando a endoscopia

As filmagens aconteceram no final de novembro de 2008. Tínhamos duas semanas para espreitar, desbravar, gravar imagens e sons e então iniciar o processo de digestão daquela desmesurada esfinge modernista de concreto armado. Sempre pareceu-me fascinante o prédio. Por vezes, sonhava com ele (nem sempre isso era prazeroso).

Começamos filmando um procedimento de endoscopia. Sou fascinado por imagens técnicas da medicina (e da arquitetura, da engenharia...). A endoscopia era assistida por imagens de raio X e tivemos de usar coletes de chumbo. Na foto, aparecem eu e o Edson Secco, técnico de som. 


Pesquisa, corredores


Em outubro de 2008, passamos a frequentar diariamente o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). O lugar é imenso e assustava. Conseguimos as plantas do edifício no departamento de engenharia e iniciamos um mapeamento dos espaços e situações do hospital. Foram quase duas semanas de marcha atlética pelos longos corredores do prédio. Conversamos com pacientes, estudantes, médicos, professores e enfermeiros. Assistimos aulas e cirurgias. E negociávamos dia a dia nosso acesso aos diversos setores do hospital.


As fotos da 'série HU'


Há alguns meses, numa visita ao ateliê da artista visual Joana Traub Csekö, deparei-me com uma série de fotografias do Hospital Universitário da UFRJ, na Ilha do Fundão. As imagens surpreendiam por revelar um edifício metade vivo, metade morto. Uma imensa edificação metade hospital, metade desocupada, metade funcionando, metade inacabada, condenada a ser para sempre simultaneamente construção e ruína.


Escrevi um projeto para ser filmado neste edifício modernista tão peculiar. O projeto foi selecionado pelo programa DOCTV de fomento à produção de documentários e então convidei Joana pra dirigir o filme comigo.

O filme começou a partir dessas fotos.