terça-feira, 21 de abril de 2009

o outro lado


Hoje é aniversário de Brasília, capital de um Brasil que passou a ser construído no tempo em que se abandonava outro. Segue a homenagem nas palavras de Nicolas Behr, poeta goiano radicado na cidade. O HU continua de pé.


Poesia Pau-Brasília

quando será inaugurada em mim esta cidade?

no dia da inauguração
os candangos jogaram
seus sonhos para cima

quem pegar pegou

dor arquivada
felicidade protocolada
utopia adiada

brasília é o fracasso
mais bem planejado
de todos os tempos

brasília é a incapacidade
do contato afetivo
entre a laje
e o concreto

bicos de seios
apontam a direção
do monumento na
cidade plana
sem seios
sem desejos

o poema 
é área pública
invadida pela
imaginação

assim nos queremos viver,
nós dissemos

assim nós queremos que vocês vivam,
disse o arquiteto

as mudanças no plano piloto
as mudanças em mim

você ri né jk
vai rindo vai rindo
até você ver
o que fizeram
com sua cidade

brasília
não envelheceu

abrasileirou-se.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Hospital às moscas!

Deu hoje no Globo: "Direção do Hospital da UFRJ suspende cirurgias após invasão de moscas". Impressionante. O surrealismo bate o ponto diariamente no HU. Siga o link acima para ler a notícia, e não deixe de ler as cartas dos leitores indignados com a situação do hospital.

sexta-feira negra

A última sexta foi terrível. Nossa ilha, nosso computador, simplesmente não ligou. Um mac novinho, menos de três meses de uso... e a tela preta, impassível. Socorro!

Aconteceu desse jeito, o que explica a defasagem do blog: havia demandas mais urgentes que exigiam nossa atenção. No entanto, como desde os tempos da assistência de câmera sei que "quem tem um, não tem nenhum", temos, na Alice Filmes, duas ilhas. Nosso mac (ilha 1) já está na oficina e nosso mac (ilha 2) está bombando com os últimos retoques da montagem: o filme tá quase pronto!

o Bolo do HU

Na última quarta-feira, nosso querido hospital fez 31 anos. Estávamos lá e fomos surpreendidos pela comemoração (e pelo imenso bolo verde). Estão servidos?


sábado, 4 de abril de 2009

o Poço


Na metade desativada, o poço dos elevadores era um vazio profundo. Preenchemos com câmera. Ela viajava pelos andares, como um elevador. Foi o único dia que contamos com a equipe de maquinária. O esquema era de baixo custo, quase mambembe. E funcionou.

A câmera descia veloz por um sistema de cabos e roldanas numa queda quase livre, vertiginosa. Ficávamos a espreita à beira do vão (ex-futuro poço de elevadores), no 13o. andar da Perna-Seca.

Alguém aí tem medo de altura?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Visitas à Perna-Seca

Na oficina de direção promovida pelo DOCTV em Brasília, surgiu a idéia de convidarmos algumas pessoas pra visitar a Perna-Seca. Tratava-se de partilhar o acesso que o filme nos credenciou a um espaço, até então, interdito. Era uma forma de ocupar aquele espaço também, ainda que por pouco tempo e de observar as reações que provocava em nós e nos outros.


Aí em cima, a professora Margareth, da Faculdade de Arquitetura. Em baixo, a Tatiana, residente de otorrinolaringologia do HU.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

No Centro Cirúrgico

Todo mundo de pijamão pra entrar no Centro Cirúrgico (da direita pra esquerda: Marina, assistente de direção; eu, fotógrafo e diretor; Fabinho, assistente de câmera; Joana, diretora; e Edson, técnico de som). Acho que é onde um hospital mais parece com a imagem que temos de um hospital. É fascinante e assustador. Filmamos uma cirurgia assistida por vídeo. Conversamos com enfermeiras, médicos, residentes. E olhamos. Muito.

Aí embaixo, o Fabinho descarregando os cartões da gravação.

In the Surgical Center Everybody in gowns  to enter the Surgical Center (from right to left: Marina, assistant director and I, photographer and director, Fabio, camera assistant, Joana, director, and Edson, sound technician). I think that here is where a hospital looks like the image we have of a hospital. It is fascinating and frightening. We shot a video-assisted surgery. We talked with nurses, doctors, residents. And we stared. A lot.

Down there Fabinho downloading the recording cards.

Cartazes no hall dos elevadores

Hospital não é disneylândia, mas me diverti muito no filme. A lógica era a seguinte: o filme já tava pago e com veiculação garantida, a gente podia pirar a vontade, experimentar com gosto os diversos dispositivos documentais. Ok, tínhamos prazo e uma grana pra lá de curta, mas a possibilidade de jogar com nossas liberdades estava posta. E não via muito sentido em agir de outra maneira. Só sei trabalhar me divertindo. Não falo de descompromisso ou irresponsabilidade. Levo todas minhas loucuras a sério. A alegria é a prova dos nove.

A hospital is not Disneyland, but I had fun shooting the film. The logic was this: the movie was already paid and the cinema circuit was confirmed, so we could freak out at will and try diverse documentary approaches. Ok, we were short on money over there, but the possibility of playing with our liberties was possible. And it did not make much sense to do otherwise. The only way I know to work is having fun. I am not talking of slackness or irresponsibility. I take all my follies seriously. The proof of the pudding is Joy.
 
Nesse dia aí, resolvemos radicalizar o distanciamento comum ao recurso da entrevista clássica, pra ver no que dava. Microfonamos o lado de dentro do aquário que era a central de comando dos elevadores do prédio. A câmera tava longe, depois do hall dos elevadores, onde se formavam imensas filas. A Joana levantava cartazes com perguntas e sugestões de assunto. Os ascensoristas não tinham muita certeza se de fato os ouvíamos. Muitas vezes, logo passavam a conversar entre si.

In this day we decided to radicalize on the usual distance that is the common feature of the classic interview, to see what would happen. We miked the inside of the glass booth that was the building elevators command center . The camera was far away, after the elevators hall, where huge queues were formed. Joana raised posters with questions and suggestions on topics to discuss. The elevator operators were not sure that we were listening to them really. Often they just went on talking to each other.

No quadro (coloquei um frame aí embaixo), havia uma inversão interessante: o primeiro plano da imagem - as pessoas na fila esperando o elevador - não correspondia ao primeiro plano do som - os ascensoristas conversando na sala de controle.

In the frame (I put a frame down there), there was an interesting reversal: the foreground of the picture - people in line waiting for the elevator - did not correspond to the foreground of the sound - the elevator operators talking in the control room.
 

Câmera-cadeirante

Visitamos o ambulatório a partir da perspectiva de um cadeirante. O ambulatório é, muitas vezes, o primeiro passo para a internação no hospital. Você passa pela triagem no térreo, sobe uma longa rampa, entra nuns corredores azuis e chega no ambulatório. Foi também uma das primeiras vezes que conversamos mais longamente com alguns pacientes. As discussões na volta pra casa foram calorosas: revolta generalizada na equipe. Muitos pontos de vistas, muita conversa. O hospital é exaustivo. E vigoroso, potente. De uma maneira insuspeita, extremamente fértil.

Camera on a wheelchair We visited the clinic from the perspective of a wheelchair. The clinic is often the first step for admission to hospital. You go through the screening on the ground floor, up a long ramp, go through some blue corridors and arrive at the clinic. It was also one of the first times that we talked at length with some patients. The discussions when we went back home were red-hot: widespread revolt in the team about the hospital situation. Many points of view, a lot of talk. The hospital is exhausting. And robust, powerful. And in an unsuspected way, extremely fertile.